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Na verdade não há.
Na verdade não há.

Você pode ouvir Pais e Filhos - Legião Urbana.

 

Era uma segunda-feira qualquer até encontra-lo novamente. Tarde de inverno e, segundo os meteorologistas, o dia prometia a maior chuva de todos os tempos. Pelas ruas e avenidas os carros corriam em direção ao seu caís e as pessoas andavam desesperadamente, com seus saltos e sapatos escorregadios pelas lamas da calçada, rumo ao ponto mais próximo. Umas fugiam da chuva, outras observavam a primeira gota de chuva cair do céu tempestuoso, eu era uma delas. Eu gostaria de ser como uma gota d’água, talvez até sejamos como gotas d’águas, pequenos em um universo mais valioso do que uma vida, que é baseada em segundos estreitos, antes de deixar de existir. Não quero falar de morte, morte é uma palavra muito pesada, as pessoas já deveriam se acostumar com o significado que ela carrega em si, mas não gostam de pensar sobre isso. A má noticia é: estamos fadados ao fim. Alias, como todos os eventos da vida, desde a chuva até o último encontro. Lembro-me de um dia que eu fui embora, e olhei pela última vez através da janela de um carro embaçado, sem saber se estava mais frio ali dentro ou lá fora. Silêncio. Gotinhas. Gotinhas. Limpador de vidro. Gotinhas. Gotinhas. Silêncio. Corajoso pedaço de nuvem, que se desprende e risca rapidamente a paisagem, deixando tudo que lhe era conhecido e inteiro, deixando de ser parte, passando a ser ímpar. Sozinha no abrigo de seu corpo. E nua no abrigo de sua alma. Terminar é um verbo no infinitivo, que se apresenta naturalmente, sem qualquer conjugação, então deveria ser menos doloroso deixar que as coisas pudessem ir embora naturalmente como a chuva do que ficar conjugando as coisas que precisam tomar seu rumo. E ponto final. E eu desejava de fato um ponto final. Fim das coisas e goodbye, embora odiasse ter que te dizer goodbye. Então você vem novamente parafraseando coisas que eu já vi. Ironia do destino? Presságio? Veja bem meu bem, se você fosse eu e lembrasse daquele primeiro sorriso sem graça e vergonhoso que eu esboçei da primeira vez que tive o prazer de ir embora, certamente entenderia que não há nada além da chuva. Não há sons, não há palpitações, não há desejo, não há amor, até Renato Russo concordaria comigo “Por que se você parar pra pensar, na verdade não há.” Ah, e as gotinhas, mas que queda ideal. Suave e melancólica, como uma prematura flor de verão, nasceu e morreu no gélico inverno.

Mônica Fernandes